Marcinha é destaque do Jornal Gazeta do Tatuapé

A treinadora das categorias de futsal sub 11 e sub 13 do Juventus, Márcia Honório, é destaque do Jornal Gazeta do Tatuapé, na edição de 05 a 11 de abril de 2009.

Confira a matéria na integra publicada no site ofical da PPFS – Federação Paulista de Futebol de Salão.

Elas são as donas da bola

da FPFS – Adriana Diniz
Márcia Honório, treinadora de Futsal das categorias sub-11 e sub-13 do C.A. Juventus, fala da sua carreira como jogadora e treinadora de futebol e futsal.

A cada dia que passa, o mito de que jogar futebol é apenas para meninos vai perdendo a sua força. E, com isso, as meninas vão ganhando seu espaço no mundo da bola. Exemplos não faltam. A começar pela Seleção Brasileira de Futebol Feminino, que conquistou na Olimpíada de Pequim de 2008 a honrosa medalha de prata. Por pouco, mas muito pouco, não ganharam a de ouro, que ficou com as americanas.

E sabe quem estava entre as jogadoras? Uma moradora da Zona Leste, mais especificamente do bairro de São Miguel Paulista. Seu nome? Érica Cristiano dos Santos. Esta aquariana, hoje com 21 anos, começou a jogar cedo. Aos 7 anos já treinava na Escolinha do Marcelinho Carioca e, aos 11, foi para a Loc Sport, onde conheceu a treinadora Márcia Honório, uma das pioneiras do futebol feminino. Depois, foi jogar no Clube Sabesp, Juventus e, por último, no Santos, clube que deixa para jogar nos Estados Unidos.

Lá, Érica irá se juntar à Formiga e Andréia, e juntas vão defender o Gold Prime, time do Estado da Califórnia que tem na comissão técnica a ex-jogadora Sissi. Só para o conhecimento, os Estados Unidos estão formando uma nova liga de futebol feminino. “Vou ficar seis meses fora e não sei ainda se vou permanecer lá ou voltar para o Brasil. Só sei que será uma experiência muito grande que será acrescentada na minha carreira”, comenta Érica.

Mas qual a sua ligação com Márcia Honório? “Trabalhei pouco com a Márcia, mas sempre acompanhei sua carreira. A Honório batalhou muito para conquistar o seu espaço no futebol feminino e hoje é exemplo para muitas meninas. Eu mesma me espelhei na sua garra para buscar o meu espaço”, revela a atacante e também zagueira.

Com relação ao preconceito e obstáculos, com Érica a história não foi muito diferente. “Toda menina quando começa a jogar futebol sente na pele o preconceito. Isso acontece na rua, na escola e até mesmo dentro de campo. Com relação aos obstáculos, eles aparecem principalmente na questão financeira, com relação a patrocinadores e divulgação. A nova geração irá notar lá na frente uma melhora, assim como eu senti com relação ao início da carreira da Márcia Honório. Mas, mesmo com todo este avanço, acredito que falta muito para melhorar. O triste é que falta reconhecimento para o futebol feminino no Brasil. Mas é preciso lembrar que alguns clubes já começam a pensar diferente. O Santos é um deles, pois sempre nos apoiou”, completa.

MAS QUEM É MÁRCIA HONÓRIO?

Se fôssemos relacionar todas as premiações que Márcia Honório recebeu ao longo de sua carreira, não teríamos espaço suficiente nesta edição. Então, escolhemos algumas: prêmio Chuteira de Ouro em 1987; prêmio Tênis de Ouro, por oito vezes; prêmio Bola de Prata, por duas vezes; além de ter sido eleita a melhor jogadora em 88 e 89, quando ganhou o Troféu Futsal.

Entre as principais jogadoras com que atuou estão: Márcia Taffarel, Pretinha, Sissi, Andréia, Tânia Maranhão e Formiga. Márcia também ajudou a revelar alguns talentos no futebol masculino: Tiago (atual goleiro da Seleção Brasileira de Futsal) Renan (ex-volante do São Paulo), Thiago Motta (ex-Barcelona) e Deco (da seleção portuguesa).

Entre as equipes que atuou estão Corinthians e Palmeiras, clube este em que encerrou sua carreira. Pela Seleção Brasileira, disputou em 1986 dois torneios na Itália, nas cidades de Nápoles e Veneza, saindo campeã. Em 1988, disputou o torneio da China, uma preparação para o Mundial; e, em 1991, disputou o sul-americano na cidade de Maringá, no Paraná, consagrando-se campeã. Para completar, participou do primeiro Mundial Feminino de Futebol organizado pela Fifa, que aconteceu na China.

Hoje, aos 46 anos, Márcia, que mora na cidade de Caieiras e vem para São Paulo para trabalhar como treinadora no Clube Juventus e na Loc Sport, revelou à reportagem desta Gazeta o quanto teve que batalhar para que o futebol feminino ganhasse seu espaço.

“Nós, quando digo isso me refiro a todas as meninas com as quais joguei, sempre brigamos pelo nosso espaço. A base do futebol de campo feminino sempre foi o futsal. Nunca treinamos para jogar futebol de campo. Para esta nova geração, e aí podemos incluir a Érica, não digo que as coisas são mais fáceis, mas visualizo uma melhora. Ainda falta muito. Principalmente apoio. Aí, o que acontece? Quem tem a chance acaba indo jogar no exterior. A Érica, por exemplo, alcançou algo que muitas jogadoras sonham. Lá fora é outra história. Há estrutura, incentivo e reconhecimento, principalmente nos Estados Unidos”, observa.

QUEBRANDO TABUS

Márcia conta ainda que não havia na sua época escolinha de futebol. “Eu aprendi a jogar bola com os meninos, na rua. Não pense você que era como hoje. Não tínhamos onde treinar. Além disso, o preconceito era muito grande. Era bem complicado. Hoje é possível ver muitas atletas se dedicando só ao esporte, mas no meu tempo trabalhávamos e jogávamos futebol. Mesmo quando chegamos à profissionalização, as coisas não se tornaram fácies. Em 88, tínhamos ajuda de custo. Em 91, houve um avanço, pois começamos a ganhar um pouco e muitas meninas já puderam deixar as outras profissões. Nesta época ganhávamos mais nos clubes do que atuando na seleção. Gosto de dizer que sempre jogamos com o coração. O futebol sempre foi a nossa paixão. Bom, mas nesta época, já começamos a ter reconhecimento. Prova é que passamos a treinar na Granja Comari. Como espectadora, percebo que muita coisa mudou e fico feliz por isso. Em alguns clubes já é possível ver aulas de futebol de campo feminino, o que é muito bom.”

Com relação ao preconceito, Márcia explica que, na sua época, era bem maior. “Antes o tabu era muito grande na sociedade. O que vemos atualmente é que muitas famílias passaram a incentivar suas filhas, o que é importante. Nas escolinhas, já é possível ver meninas jogando junto com os meninos. Na Loc Sport, dos 200 alunos, seis são meninas. É claro que ainda é um número muito baixo, mas com relação ao que vivemos no passado, é um avanço muito grande. Também acredito na questão do talento nato. E muitas meninas o têm. Vemos que o dom nasce, sim, com algumas e alguns. Costumo dizer que não ensino ninguém, só ajudo a lapidar o talento que há em cada um deles. E fica a dica para os pais: é preciso deixar a criança ser criança também. Já vi muitos atletas com um futuro promissor desistirem quando se tornam adultos por causa de tanta imposição”.

Por Vanessa de Sousa
Jornal Gazeta do Tatuapé
(Edição de 5 a 11 de abril de 2009)